Quem faz a sua cidade?
Por: Cristiane Carmo, Eliane Pereira, Fernanda Dione, Milton Leituga e Sandra Mª Oliveira.
“E a cidade se apresenta centro das ambições
Para mendigos ou ricos e outras armações
Coletivos, automóveis, motos e metrôs
Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs
Para mendigos ou ricos e outras armações
Coletivos, automóveis, motos e metrôs
Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs
A cidade não para, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce”
O de cima sobe e o de baixo desce”
(Nação zumbi – A CIDADE)
Ao longo da história das civilizações observamos a necessidade do homem de se agrupar em comunidades, o que levou ao surgimento das cidades. A mais antiga que se tem conhecimento é a cidade de Jericó, às margens do rio Jordão na Palestina, que data mais de oito mil anos antes de Cristo. Contudo, as cidades ganham fôlego e se transfiguram após o advento da indústria, que gerou novas cidades e modificou as estruturas das cidades mais antigas. Em alguns casos elas foram extintas. Segundo Carlos (2007), Profª. da Universidade de São Paulo, o conceito de cidade é entendida como lugar da reprodução da vida como base material e social.
Nenhuma cidade é absolutamente isolada, as cidades se comunicam por meio dos fixos e dos fluxos, firmando uma relação de interdependência. As cidades são pólos de atração de capitais, de mão de obra, indústrias, comércio e serviços.
Quem faz sua cidade? Esse questionamento nos remete a uma análise do processo de urbanização e também como foi sua instauração no território nacional, bem como sua repercussão na produção do espaço urbano da cidade de Vitória da Conquista/BA (escala local), com o intuito de ampliar o entendimento das mudanças percebidas na cidade.
Com as novas transformações que são percebidas no espaço urbano, urge a necessidade do entendimento como essas mesmas estão ligadas ao nosso cotidiano, no sentido de sermos atores e produtores dessa realidade.
As articulações que a globalização impõe na produção dos espaços urbanos mundiais, tanto na construção civil, quanto nos novos costumes que são principalmente absorvidos por jovens, que sejam da periferia pobre ou classe média e alta, incita a necessidade de uma ampla abordagem dessas transformações.
Para uma melhor compreensão dessa problemática serão elencados alguns pontos para dar um suporte teórico ao tema, a exemplo:
· A compreensão dos processos históricos que envolvem a urbanização e principalmente um pouco da história conquistense;
· As relações globalizantes que hoje são alicerce dessas relações atuais de produção do espaço urbano;
· As consequências sociais que essas relações desencadeiam como as alterações no cotidiano dos jovens.
O primeiro passo para se analisar o fenômeno da urbanização, suas causas, fundamentos e consequências no espaço geográfico, parte de um complexo debate sobre seu conceito, bem como sua ligação ao processo histórico, sem perder de vista as fortes investidas do modo de produção capitalista, que se disseminou por todo o território global.
O conceito do termo urbanização refere-se a um processo contínuo e de longa duração de inserção de novas estruturas físicas e sociais na cidade. Ou seja, é um processo de homogeneização do espaço para a reprodução da sociedade consumista, com legitimação do Estado, ao mesmo tempo se integra com os interesses dos grupos dominantes. Isso numa perspectiva capitalista.
A urbanização capitalista ao se instaurar no Brasil teve grandes ocorrências com alterações, tanto espaciais, quanto sociais, como a concentração dos ditos avanços que a urbanização proporciona na Região Sudeste do país e principalmente na metrópole paulista, configurando dessa forma um modelo de urbanização que concentrou informações e investimentos.
Vitória da Conquista: uma análise local do processo de urbanização
Para entendimento desse fenômeno pelo qual passa a cidade, é necessário se fazer uma discussão histórica de formação e transformação pela qual passou a cidade e sua articulação com a urbanização brasileira. Para a abordagem dessa temática, a cidade de Vitória da Conquista situada no sudoeste da Bahia, será tomada como exemplo para o entendimento dos processos históricos entre outros aspectos fenômenos, os quais são formadores das configurações da cidade.
Existem relatos de 1780, que apontam aglomeração humana formando o arraial. Seu desenvolvimento econômico se deu paulatinamente por meio das atividades do plantio do algodão que se tornou ponto de passagem de boiadeiros que seguiam viagem para a capital Salvador. Em 1840 o arraial se torna vila, ai surge à necessidade de planejamento de ocupação e uso do solo.
Outro fator que ocorre concomitante a essa expansão capitalista na cidade, é o desenvolvimento do comércio e a abertura das rodovias como: a Ilhéus – Lapa (BA 415) e a Rio – Bahia (BR 116). Esses fatores são um incremento do desenvolvimento urbano da cidade, porém, por si só não definem o avanço da urbanização da cidade, são uma soma de fatores do processo macro de definição desse avanço urbano conquistense.
O crescimento da malha urbana conquistense, se configura, na perspectiva do desenvolvimento capitalista, com suas especificidades e se conectando aos modelos globais. Essa articulação define as características da urbanização da cidade de Vitória da Conquista, e serve de entendimento para os processos atuais, tanto nas desigualdades geradas nessa lógica, quanto da complexidade que venha a ser a urbanização capitalista.
Para abordarmos a urbanização conquistense, faz-se necessário mencionar um aspecto importante: a expansão do plantio do café. Cabe salientar, que a inserção de Vitória da Conquista no ciclo produtivo de café do Brasil, teve impulso da União, como afirma Ferraz:
O governo federal, com a finalidade de expandir a lavoura cafeeira para além das regiões sul e sudeste de Brasil, destinou vultosos recursos financeiros para essa região da Bahia e outras áreas do país. Assim, o comércio de terras propícias para o plantio de café se intensifica, e o preço sobe consideravelmente, o que dificulta o acesso à terra por parte de pequenos proprietários e impulsiona a migração rural. (FERRAZ, p, 33)
Frente a todos esses processos históricos citados no texto, e com a disseminação das ideologias da globalização por todo o planeta, se percebe no cotidiano da cidade de Vitória da Conquista uma mudança tanto nos costumes como na dinâmica da convivência entre a população da cidade, principalmente entre os adolescentes, que se vêem reféns da sociedade da mercadoria, e se inserem de forma descontrolada nos modismos que os grandes centros urbanos impõem nas demais cidades, as necessidades no mercado, condicionando todos ao jugo capitalista.
Por fim, pode-se observar no cotidiano da cidade de Vitória da Conquista, um crescimento desordenado da malha urbana, o que causa situações de desigualdade socioespaciais, precarização do trabalho, inacessibilidade ao lazer, e vulnerabilidade dos jovens e adolescentes frente a essa realidade.
Referências:
CARLOS, Ana Fani A. A cidade. 8. Ed. São Paulo: Contexto, 2007.